pela ilha da madeira (III)

Os detalhes

…um a um, eles vão encaixando como um puzzle e formando uma realidade paralela que complementa a paisagem. São pequenos mosaicos de uma grande construção e um verdadeiro privilégio da natureza, seja nesta ilha seja em qualquer lugar do mundo.

Olhando para o solo…

…ele é o grande receptáculo da água/humidade existente. Por ele correm rios, ribeiros, canais e levadas… repousa a água das chuvas e dos nevoeiros…. assim como toda a que se condensa na vegetação em quantidades inconcebíveis.

Esse solo é por isso o cerne da vida e útero de uma imensa rede de raízes de uma flora característica e muito diversificada. Mais recentes ou centenárias, formam um verdadeiro mundo subterrâneo que espreita à superfície.

O nosso caminhar afaga-as e talvez as perturbe. Ou talvez não. Certo é que nos oferecem beleza e expressividade, mas em troca requerem atenção pois, sendo muitas vezes escorregadias… facilmente passam uma “rasteira” à nossa desatenção.

As bermas das levadas mostram uma vegetação de beleza única composta por fetos, musgos e muitas outras espécies. Deliciam o olhar dos mais atentos e estão ali para ser apreciadas.

Alguns caminhantes porém, percorrem os trilhos com tamanha velocidade que me pareceu nada verem….

Os fetos têm nesta ilha um dos seus paraísos. Abrindo-se em folhas gigantes ou de pequena dimensão, a sua presença é realmente marcante. E o seu desabrochar é e será sempre um detalhe que nos encanta.

É aqui, neste mundo dos fetos que encaixa a fotografia inicial deste post, uma imagem simbólica e onde encontro uma belíssima e solidária parceria visual entre um tronco queimado/cortado e o feto que a seu lado cresceu empaticamente. Gosto de imaginar que a solidão e tristeza deste tronco assim ficou menor…

É importante referir que a Madeira sofreu grandes incêndios na ultima década, creio que em 2010 e 2016, eventos que deixaram feridas ainda bem visíveis em vários locais.

Erguendo um pouco o olhar….

…tão ou mais expressivos que as raízes são os troncos, solo e abrigo de muitas espécies e onde naturalmente a vida ganhou novas formas. Também aqui, fungos, musgos e líquenes são uma presença que o olhar não consegue ignorar.

A beleza está na vida mas também a encontramos na morte, especialmente no reino vegetal. A expressividade das árvores e troncos secos, são puros gritos de beleza para as nossas emoções.

Diversificando o olhar é tempo de reparar nas flores, um verdadeiro ex-libris desta ilha que lhes dedica  inclusivamente uma festa em cada Primavera. Pela minha parte lamento que tantas sejam plantadas e depois cortadas para decoração desse evento. Pessoalmente isso dói-me.

Neste post apenas me interessam as flores que decoravam os caminhos por onde andamos. Foram muitas, variadas e sempre belas, na sua simplicidade ou sofisticação.

Destaco o massaroco da Madeira, uma planta endémica que marca presença em muitos lugares, especialmente de média altitude. Formam feixes de flores cónicas de tom azul-lilás e são sempre um encontro agradável sejam quais forem as condições atmosféricas envolventes.

Detalhe maior relacionado com esta ilha e que não pode realmente ser esquecido são as bananas, um fruto com características um pouco diferentes das que consumimos normalmente, uma vez que são mais pequenas e o seu gosto ligeiramente diferente.

São cultivadas em grande escala a baixas altitudes, especialmente nas vertentes e fajãs do lado sul.

Das muitas fotografias que tirei na Madeira, o foco esteve essencialmente na paisagem e na flora, mas também na fauna, temática que estará presente no próximo post desta série e que será o ultimo sobre as férias de 2022.

Mas outros detalhes despertaram a minha atenção, nomeadamente a nível da geologia, sendo com dois deles que termino este post. Fazem parte de um lote de imagens captado na Ponta de S. Lourenço, no último dia e antes de nos dirigirmos para o aeroporto. 

Escolhi-os por serem curiosos e por transmitirem um dinamismo que é real e constante neste planeta que nos recebe. Certo é que, ao observá-los, quase consigo ver o movimento daqueles núcleos a virem à superfícies e a serem “paridos” pela terra. Mas escolhi-os, especialmente, porque foram os últimos detalhes fotografados antes do regresso.   

Num silêncio pétreo, estes “filhos” daquela terra despediram-se do nosso olhar. E nós simplesmente agradecemos!

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serra de carnaxide

Os dois períodos de confinamento a que fomos sujeitos em Portugal no último ano no âmbito da pandemia, concentraram o nosso olhar num circulo muito mais restrito do que o habitual. Por um lado, a casa, os detalhes, as suas janelas e o que estas nos ofereciam; e por outro, a área em que se insere a nossa residência, território que foi o limite do nosso restrito mundo durante esses meses.


Foi nesse contexto que a Serra de Carnaxide, uma pequeno maciço pertencente ao Complexo Vulcânico de Lisboa com uma área de 6 quilómetros quadrados e 211 metros de altura, foi por nós explorado em vários momentos, uma vez que a nossa residência se encontra na sua periferia.

Limitada a leste pela ribeira de Algés e a oeste pela ribeira do Jamor, é no seu cimo que passa a linha que separa os concelhos de Oeiras e da Amadora.

A área correspondente a este segundo concelho, localizado no lado norte, está a ser urbanizada e literalmente engolida por arruamentos e grandes empreendimentos habitacionais.

Infelizmente o mesmo está a suceder noutras áreas que integram o perímetro da serra, como é o caso da urbanização de grande volumetria que está a crescer em redor do pequeno maciço onde se localiza o farol da Mama de Carnaxide, este já no concelho Oeiras. Uma verdadeira dor de alma!

Já o lado sul do maciço central da serra, tal como bem revela a primeira imagem deste post, ainda mantém o seu estado natural e a flora espontânea que foi nascendo quando as terras deixaram de ser cultivadas. Algumas áreas porém, pertencentes a privados, ainda são alvo de cultivo.

São várias as colmeias que ainda existem no perímetro da serra

Por ser uma zona com nascentes, nas suas entranhas passa um aqueduto construído no séc. XVIII que forneceu a vila de Carnaxide e ainda contribuía com água para o grande Aqueduto das Águas Livres que abastecia Lisboa. Por esse motivo são várias as claraboias/respiradouros que pontuam esta serra e que muito a personalizam. A Mãe de Água é a estrutura de maior dimensão e de planta octogonal.

Em Carnaxide a água era recebida neste chafariz, datado de 1766 e mandado construir pelo rei D. José I. A primeira imagem mostra o seu alçado principal, em cantaria e equipado com duas bicas e um tanque; e a outra o alçado posterior com revestimento em azulejos, que creio serem já do séc. XX.

Voltando à serra e aos nossos passeios, foram muitos os atalhos que percorremos e exploramos…muitas subidas e descidas…por zonas abertas ou de densa vegetação…com ampla vista ou sem ela.
Cada incursão significou um novo caminho, mas em todos foram imensas as flores e os insectos que nos acompanharam e deleitaram o olhar.

No céu, em voos planados, as aves de rapinas estiveram presentes em vários momentos.

Por isso termino com esta bonita imagem de uma Águia d’asa redonda (Buteo buteo) captada pelo meu companheiro. Creio ser uma boa forma de concluir este post…por esses voos representarem aquela liberdade sem restrições que nós realmente não tínhamos.

Foto de Jorge Oliveira

violetas à janela

 

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Não aprecio a cor violeta/roxo. Esse tom nunca acompanhou os meus dias, seja em peças de roupa ou objectos decorativos. Não sei explicar esse sentir, nem estou propriamente interessada em saber. Há muita gente que não gosta de amarelo e eu gosto de amarelo. Como bem diz o provérbio…”gostos não se discutem”!

Contudo, adoro a cor das minhas violetas!

Gosto deste violeta que me preenche a janela nesta altura do ano…gosto da forma como estas violetas presenteiam o meu olhar com a sua beleza, singeleza e aveludado…gosto desta ambígua cor que aqui me delicia os sentidos….. gosto… desta cor que não gosto!

E questiono-me:

Como posso, de uma forma tão oposta, “não gostar” e “gostar” de uma mesma cor?

O que é o “gostar de” e o “não gostar de”?

Talvez seja algo tão relativo e mutável como relativas e mutáveis são as nossas emoções, as nossas opções, as nossas certezas ou os nossos sentidos.

Será?

 

 

 

 

pela primavera

 

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Manifesta-se com elegância a energia da Primavera, seja no alongar das horas de luz dos nossos dias, seja no aparecimento de temperaturas mais amenas nas emoções da nossa pele… e sempre, sempre no imenso acordar da natureza que está a acontecer em nosso redor.

Neste momento das nossas vidas e dadas as circunstâncias de retenção e de isolamento social em que estamos…

…não tenho um prado com flores para deleitar o olhar, mas tenho a florescência de algumas plantas de interior que aqui e ali dão cor a minha casa;

…posso não ter o aroma da terra, mas tenho o aroma intenso de um manjericão;

…não tenho a liberdade de ir passear e de proporcionar ao corpo e aos sentidos a vital energia deste início de estação, mas tenho o privilégio de ter uma casa com boa vista, muita luz e muita natureza no seu interior;

Apesar de confinada a algumas paredes e com o corpo e a mente claramente centrados num receio/medo que se pegou à nossa pele e ao nosso pensamento, eu tenho quase tudo. Em meu redor acontece o desenrolar silencioso da nova estação, os novos rebentos que brotam, as folhas em busca de um espaço próprio ou as flores revelando o seu potencial de forma e cor. 

É essa Primavera que hoje quero partilhar convosco.

 

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A viver numa varanda fechada (apesar de ser uma planta de exterior), a minha buganvília está cheia de flores e de rebentos neste início de Primavera, como revelam as primeiras três imagens. Tenho por ela um carinho muito especial uma vez que me foi oferecida após a publicação do texto que marcou o início deste blog e onde mencionei a empatia que sinto por esta espécie vegetal.

 

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Também o azevinho, outra planta de exterior a viver no interior, acompanha a vitalidade da buganvília e a sua energia expansiva. As pequenas flores brancas estão a dar lugar aos frutos, que um dia serão vermelhos.

 

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Todas as violetas estão felizes, cheias de botões e de vontade de partilhar as suas flores!

 

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Se as flores das begónias espalham o seu tom rosado, já o clorófito oferece a singeleza das suas pequenas flores brancas pontuadas pelo amarelo da antera dos estames.

 

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Contrariamente à planta-melancia, cujas flores são tão minúsculas que quase não se vêem, as orquídeas têm vaidade no tamanho das florescências, agora ainda em botão.

 

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Os fetos e as avencas não apresentam flores, mas são imensas as folhas que neles desabrocham…

 

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…assim como no Lírio da Paz ou no Scindapsus, acontecendo o mesmo em várias outras espécies.

 

Termino com o cheiroso mangericão porque ele, como sucede na maioria das aromáticas, é uma planta “sociável” e que sempre dá algo em troca. Na vossa imaginação deixo o seu  aroma e na fotografia a evidente vontade de multiplicação das suas folhas.

 

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Nestes tempos loucos que estamos a viver precisamos, mais do que nunca, de ser um pouco como os mangericões: sermos troca, sermos dar e receber. Como?

Procurando a beleza que continua viva perto de nós e cheia de vontade do nosso olhar. Procurando os detalhes positivos, porque eles são alimento. Procurando descobrir os pequenos prazeres que podem ser gratificantes e gerar uma boa energia. Procurando aqueles detalhes que podemos dar, receber e trocar mesmo à distância, sem toque, afagos ou abraços.

Precisamos muito…seja por nós, seja pelos outros.

 

 

 

banho de natureza

 

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A efémera beleza das flores de um nenúfar acompanha as horas de sol e o ritmo das  estações, mas a planta-mãe saboreia durante todo o ano o lento mover do fluído que a alimenta. Os nenúfares exteriorizam na Primavera e no Verão o que guardam com recato na restante metade do ano.

Recentemente senti o prazer de me banhar numa piscina biológica, cuja pureza e equilíbrio resulta da presença de diversas espécies de plantas aquáticas, incluindo nenúfares. Todas foram controladamente plantadas numa faixa na periferia do espaço e, a par dos limos e de outros micro-organismos, contribuem de uma forma natural para o processo de limpeza e oxigenação da água, meio também habitado por uma fauna específica de pequenos animais como rãs, cobras-de-água, insectos variados, incluindo muitas libélulas/libelinhas.

Centrando-me nos nenúfares…

…as várias espécies existentes  foram plantadas de modo a permitir uma certa proximidade e um diálogo “olhos nos olhos” deixando os sentidos apreciar…

…flores com morfologia e cores diferente
…folhas com formatos diferentes
…e aromas diferenciados!

Surpresa!

Apesar de olhar para os nenúfares como uma planta belíssima, misteriosa e um tanto mística, na verdade sempre esteve “longe”…ali…além…em lagos…e nunca ao nível dos meus sentidos e ao lado do meu corpo.

Ainda não experimentara…

…afagar os seus finos caules e robustas folhas…
…cheirar o aroma das flores…
…partilhar a mesma água…
…e sentir o seu tranquilo e uterino modo de vida!

Momento único este “banho de natureza”!

Como único e inesquecível foi aquele instante em que uma pequenina rã salta da folha de um nenúfar onde repousava (apreciando talvez o sol e a paisagem…), e começou a nadar junto a mim. E eu segui-a… calmamente….emocionada… e totalmente fascinada!

Depois ela seguiu para o interior do mundo dos nenúfares, uma área proibida a esta feliz humana que acabara de viver um daqueles momentos em que nos sentimos parte de algo maior e, na “pele”, a ternura desta mãe-natureza que nos enlaça e envolve.

Numa única palavra: adorei!

 

 

 

 

de regresso… IV

 

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Sendo a natureza a vertente que mais prevalece no momento de planearmos férias, não poderia terminar este conjunto de posts sem partilhar esse sentir de uma forma mais concreta.

Não foi fácil fazer uma selecção de imagens porque cada lugar revelou detalhes que facilmente atraíam a atenção e a máquina fotográfica. Mas a escolha foi necessária, sendo provável que, mais cedo ou mais tarde, as não escolhidas apareçam noutros contextos e temáticas. Afinal a natureza é uma contadora de histórias, pelo que cada detalhe que ela nos oferece é um mundo que se abre ao olhar e à imaginação.

Começando pela imagem inicial…

…estamos perante um fruto, incógnito e sem sementes descansando em terreno infértil, algo que só por si teria potencial para uma divagação. Mas não me posso perder…

Aquelas sementes estarão algures, já germinadas ou ainda dispersas no solo. Foram levadas pela água, pelo vento ou serviram de alimento a uma ave. Num tempo indeterminado, outras sementes iniciaram um ciclo de luta e sobrevivência, de cooperação e exploração, de partilha de vida e de beleza, seja através dos seus troncos…

 

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…ou da aparente fragilidade dos outros elementos que as formam, como as folhas, as flores ou os frutos.

 

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Sendo a água imprescindível na sobrevivência de todas as espécie, ela corre, escorre, afaga, penetra, alimenta e deslumbra… como fonte de Vida e como fonte de prazer, consoante os contextos.

 

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Com vegetação e água, naturalmente a vida animal surge perante o nosso olhar. Em sons e silêncios, movimentos e relações, cor, beleza, ternura e encanto…

 

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E assim, com esta imagem de uma andorinha em voo sobre o rio Tua, fotografia que gosto imenso e que foi captada pelo meu companheiro de vida e de aventuras Jorge Oliveira, termina esta série de quatro posts sobre um tempo de férias com energia e sabor lusitano. Espero ter conseguido transmitir um pouco desse sentir.

Este post especificamente, publicado num tempo crucial, difícil e de enorme importância para a natureza e para este planeta que nos recebe, é apenas um pequeno contributo para o respeito e para a atenção que ambos nos merecem. Mais não seja porque o olhar e a beleza também nos alimentam o pensar.

Desejo a todos uma boa semana!

 

 

de regresso… II

 

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Portugal é um pequeno país em área, mas grande na diversidade que agrega e que oferece ao nosso olhar. É um pouco dessa variedade que pretendo partilhar convosco neste segundo post sobre o recente período de férias vivido e que já foi anteriormente abordado de uma forma muito genérica.

A maioria desses dias foram passados em Trás-os Montes e Alto Douro, naquele território quente e agreste que forma o nordeste português. Apesar do calor e das esperadas curvas das estradas nacionais dessa região, algumas memórias precisavam de ser reavivadas e novos lugares conhecidos. Não sendo fácil, era o que queríamos e assim o fizemos.

Cada lugar tem uma orografia própria, uma textura de “pele” e detalhes que o personalizam. É esse olhar que hoje gostaria de partilhar sobre esta região de Portugal, território de montes e vales, de rios e escarpas, de uma vegetação muito própria e de dois Parques Naturais, o do Douro Internacional e o de Montesinho, espaços que têm sabido manter as suas características e personalidade.

O rio Douro, que marca a sul este território e a leste faz fronteira com Espanha, esteve presente em diversos momentos no nosso olhar, mas não ladeado dos socalcos e dos vinhedos que tanto o caracterizam em certas áreas e que lhe permitiram obter o título de Património Mundial da Unesco. Nesta região as vinhas aparecem como parte de uma manta de xadrez e riscas, como uma parte da decoração da paisagem. O que realmente  predomina são as oliveiras e as amendoeiras, numa harmonia de verdes diferenciados que pontuam encostas suaves ou em socalcos.

 

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É em Barca de Alva, onde descansam cruzeiros-hotel que percorrem o rio Douro, que esta linha de água nos começa a separar de Espanha. Adquire então o nome de Douro Internacional, titulo que empresta ao Parque Natural que atravessa. No outro lado da fronteira este espaço preservado toma o nome de Parque Natural de Arribes del Duero

O rio separa os dois países, mas Espanha está ali tão perto. Na paisagem de um qualquer miradouro dos muitos que observam esta região, basta estender um braço e o rio quase é nosso. Como uma linha. Como um abraço.

Nessa fronteira leste, as arribas são mais mais altas e sinuosas, mais agrestes e intranquilas. Mas o Douro não se importa e segue o seu rumo. Na paisagem destaca-se um penedo, sendo Durão o seu nome. Um ex-libris da região, bem protegido pelas aves de rapinas que o sobrevoam e que as imagens não pretendem hoje mostrar.

 

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A um miradouro, segue-se outro. E outro mais. Sempre com aquela linha de água azul esverdeada a serpentear entre montes.

 

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Deixemos o rio Douro em paz e voltemos o olhar mais para oeste, para o interior daquela terra quente transmontana onde correm outros rios, como o Tua e o Sabor. O segundo deteve até há poucos anos o titulo de “último rio selvagem de Portugal”. Mas as barragens domaram os seus ímpetos porque outros valores “mais altos” se levantaram.

Hoje, mais tranquilizado, o Sabor deu lugar a uma sequência de “lagos” que marcam uma paisagem ainda desconhecidos para muitos.

 

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Já o rio Tua, um pouco mais a oeste, ainda oferece recantos maravilhosos e de paz em pleno Verão.

 

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Seguimos depois para norte e para o já mencionado Parque Natural de Montesinho, terra pouco povoada e ainda habitada pelo lobo, o que revela a sua natureza mais selvagem. Os montes ondeiam no horizonte e as curvas na estrada são presença constante. Mas a vegetação mudou e agora são os carvalhos e os castanheiros  que aconchegam a paisagem. Estes últimos, individualizados e imponentes ou formando soutos são presença no nosso olhar, assim como várias espécies de pinheiros (?) o faz noutros recantos.

 

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Aqui, numa região oficialmente preservada, são as espécies autóctones que predominam. A seu lado, também a actividade agrícola se desenrola em lugares próximos da presença humana, seja nas hortas que todos possuem, seja nos campos com cereais maduros, dourados e prontos a serem colhidos.

 

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Se a paisagem faz a textura de uma região, outros detalhes são o complemento que a consolida. Encontramos muitos, imensos, mas o post já vai longo e o objectivo é essencialmente um olhar aéreo sobre esta parte de Portugal.

Contudo, não resisto a partilhar alguns aspectos que o olhar guardou e que são uma parte importante da textura da paisagem, como os telhados vermelhos no xadrez caótico mas cheio de personalidade de muitas vilas; as casas em pedra e xisto que continuam a resistir aos tempo; ou ainda as flores, que aqui, ali e além pontuaram o nosso olhar de cor e de prazer.

 

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E é assim, com cor, que termino por hoje. Mas regressarei em breve, com outros olhares e mais lugares!

 

 

Mapa retirado de https://www.google.pt/maps/@40.3483617,-6.0232678,6.14z

 

 

 

ligações afectivas

 

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Em Setembro de 2016  partilhei um post sobre o almanaque Borda d’Água, folheto anual publicado em Portugal pela Editorial Minerva. Ele nasceu dois anos depois da editora e transmite um saber simples, ligado à terra e à agricultura, ao céu, aos astros e às estações do ano, à história, ao mundo cristão e ainda à cultura popular.

Amiúde o meu olhar passa sobre a folha do mês em curso a fim de saber algo mais sobre a “história” e acontecimentos do dia. Hoje porém, ao verificar que a editora que o publica nasceu a 2 de Junho de 1927, o que significa que completa 92 anos de vida, associei de imediato esse evento à minha progenitora e à idade que ela teria se estivesse viva, uma vez que nasceu nesse mesmo ano. 

A minha mãe tinha o saber adquirido enquanto estudante, mas guardava um saber bem maior, mais popular e fruto da simplicidade do meio em que nasceu e cresceu. Como apreciadora da natureza em todas as suas versões, sabia identificar a maioria das flores e de muitas plantas, saber talvez aprendido com o seu pai (e meu avô), um homem que sempre teve uma pequena horta ou um jardim para cultivar e zelar.

Minha mãe também entendia a meteorologia de uma forma muito empírica mas assertiva. Se o vento estava assim… tinha um significado; se estava de além…implicava outra coisa; se as nuvens apareciam naquele lado ou se a lua tomava determinado aspecto, era outra coisa qualquer;  e assim por diante. E naturalmente associava ao seu próprio conhecimento saberes populares e provérbios que depois partilhava nas mais diversas situações.

Hoje percebi que o meu gesto quase diário de deitar o olhar sobre este almanaque que a Editorial Minerva insiste heroicamente em publicar num tempo em que o “saber” se adquire pela internet é, de certa modo, um olhar sobre as raízes que me deram origem, e talvez, uma forma inconsciente de encontrar um pouco da minha mãe, da sua sensibilidade e de uma sabedoria que muito me encantava e que tantas vezes me levou a pensar “como é que ela sabe estas coisas todas?”

Um olhar ternurento sobre ela e o passado, leva-me sempre a senti-la como alguém muito especial… mas igualmente como um pequeno “almanaque humano”, uma espécie de Borda d’Água com coração!

Neste dia, longa vida à Editorial Minerva e ao seu delicioso Borda d’Água!

 

 

 

61!

 

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Nasci em plena Primavera, por sorte na época do ano que mais aprecio.

Faz hoje precisamente 61 anos que decidi começar esta aventura para além do útero materno. Nasci rodeada da bela paisagem alentejana, um selo de harmonia e de energias que gosto de acreditar ter marcado a minha sensibilidade ou a forma como a luz, o sol, o céu, a paisagem ou a natureza me tocam e são geradores de sentires muito próprios.

Esta será certamente uma visão algo romântica da questão, pois a realidade regista que deixei o Alentejo com pouco mais de seis meses… contudo, sendo o romantismo um pensar doce e que não faz mal a ninguém, esta sexagenária não resiste ao seu paladar!

Assim, voltando à ideia que as paisagens alentejanas oxigenaram os meus genes nesse período…a verdade é que a minha estrutura emocional se manifesta de uma forma muito vibrante quando encontro um prado na Primavera. Adoro prados! E o Alentejo onde nasci… é um mar de prados!

Se me perguntarem que flores mais gosto, só tenho uma resposta: as flores de um prado e um prado com flores! Sejam as pequenas e menos visíveis que o verde protege com cuidado e gratidão, ou as mais exuberantes que atraem o nosso olhar e chamam a atenção.

Um prado é a “maior democracia” que existe na natureza. É o equilíbrio puro, na sua forma mais espontânea. Todas as espécies têm o seu papel numa cooperação harmoniosa, a que o acaso pela mão dos quatro elementos – terra, ar, água e fogo/sol – criou para deleite da própria natureza e do nosso olhar.

Tudo está no local certo, em resultado de uma dinâmica perfeita. Mesmo que exista competição entre espécies, o que sabemos ser comum na natureza, o equilíbrio é genuíno e existe só por si.

A beleza do conjunto revela-se igualmente num olhar mais detalhado, mas hoje não vou por aí, não é importante. Talvez um dia partilhe essa visão. Nesta data, em que me sinto feliz e muito agradecida por completar mais um ano de Vida (não obstante as dificuldades que sempre vão surgindo), o prado é um símbolo a que dou enorme valor, seja pela capacidade de auto-regeneração anual, seja pela harmonia que transmite e que sempre procuro guardar e “cultivar”, ou ainda pela grande lição de respeito e de cooperação pacífica que dá ao mundo.

A imagem inicial é um detalhe de um belíssimo prado que recentemente encontrei num recanto da região onde resido. Senti-o como um pedaço de Vida, como uma oferta da Natureza…e como tal, ideal para partilhar neste dia!

 

 

dia da espiga

 

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Segundo o calendário católico, quarenta dias após a Ressurreição de Cristo ocorre a festa da Ascensão, evento religioso que sempre sucede a uma quinta-feira. Este ano é a 10 de Maio, hoje portanto.

Por todo o país, mas especialmente a sul de Portugal onde o cultivo de cereais é mais abundante, este dia está associado ao Dia da Espiga, uma tradição que consiste na recolha de várias espécies vegetais e com elas compor um ramo que irá passar um ano pendurado atrás de uma porta, até ser substituído por um novo no ano seguinte.

Nesse período, ele protegerá a habitação de energias menos boas e chamará a abundância. A sua boa energia estará relacionada com o facto de ser recolhido no auge da Primavera, uma época de luz, cor e vitalidade, e que para além de marcar o início da época das colheitas está associada à fecundidade da terra. Nesse ramo…

…as espigas de cereal representam o pão; as papoilas vermelhas o amor e a vida; o ramo de oliveira, o azeite, a paz e a luz; os malquereres, o ouro e a prata, ou seja a riqueza; o alecrim, a saúde e a força; e o ramo de videira, o vinho e a alegria.

 

Neste dia, todos os anos regresso à infância. E recordo a imagem de minha mãe, mulher nascida a sul e aberta a tradições, a cumprir o ritual da apanha da espiga com as filhas a acompanhar. Depois o tempo passou, a vida mudou, as circunstâncias também e esse detalhe foi-se perdendo no tempo.

De vez em quando um ramo de espiga oferecido ou comprado (porque na cidade não existem prados…e as quintas-feiras são dias de trabalho!), entra serenamente em minha casa e aí se instala…até ser substituído por outro mais activo e com energias “actualizadas”.

Gosto destas tradições que ainda circulam na memória da vida e dos povos. Porque, se pensarmos um pouco mais nesta ideia de “unir” num ramo as energias que nos movem e que dão sabor à vida é algo de encantador. Manter este “microcosmos” literalmente pendurado na alma da nossa casa protegendo e energizando a nossa vida, poderá ser um absurdo para muitos ou visto apenas como algo do passado por outros….eu acho um acto delicioso, curioso e muito simbólico!

Termino com o link para a página de onde retirei a imagem acima e que descreve com algum detalhe outros aspectos associados a este dia e à forma como ele é vivido em várias regiões do país.