Não é a pequena dimensão de Portugal continental e insular no contexto do planeta que nos impede de ter uma grande diversidade de tudo, mas também de modos de falar, os ditos sotaques que variam de região para região ou, inclusivamente, até dentro duma mesma região.
Sobre isso vou hoje divagar, partindo da história de duas irmãs que há quase cinquenta anos deixaram o sul de Portugal e rumaram a Lisboa, cidade onde ainda permanecem.
Hoje, uma das irmãs – que é uma grande conversadora – nunca é alvo de perguntas mais pessoais sobre a sua origem pois logo se adaptou à forma de falar dos nativos da capital; já a outra irmã, que é bastante menos faladora, sempre que o faz junto de alguém que ainda não a conhece, sabe que muito em breve ouvirá a seguinte pergunta padrão: “é algarvia?”…ou… “é açoreana?” ……ou, muito mais raramente…. “é alentejana?
Esta segunda irmã sou eu, esta vossa interlocutora, nascida no Baixo Alentejo, região onde viveu até aos 6 meses, sendo a infância e a juventude passadas no Algarve. Aos dezassete anos rumou a Lisboa, onde criou raízes e filhos, adaptando-se a tudo… menos ao modo de falar!
Não me incomoda absolutamente nada o facto de manter um certo sotaque algarvio quase cinquenta anos depois de lá ter saído. Aliás, até acho muita piada à situação. Certo é que apenas o percebo quando ouço a minha voz gravada. Já não uso palavras ou termos típicos da região, mas mantenho a entoação… o cortar algumas vogais…alterar o som de silabas ou ditongos, etc. Diria que é uma forma peculiar de falar algarvio, mas logo percebida pelos outros.
Muito pontualmente questiono-me sobre o porquê de não ter adoptado o modo de falar da capital como o fez a minha irmã em tão pouco tempo. E as perguntas que me surgem são:
– Será uma rejeição inconsciente à mudança para Lisboa?
– Será que o facto da minha sensibilidade não estar propriamente centrada na audição/ouvido, levou a que não tenha “entendido/ integrado” as nuances que caracterizam a forma de falar da capital? Ou seja, lá bem no fundo, será que nunca os ouvi realmente com atenção?
– Sempre tive alguma dificuldade em aprender línguas estrangeiras, especialmente a parte da conversação. Estará tudo relacionado com isso?
– Ou será que nos “genes” da minha irmã prevaleceu a origem lisboeta do nosso pai e nos meus a origem algarvia da nossa mãe?
Sei que continuarei sem respostas…a perguntas que realmente não são importantes. Assim como sei que, se não tivesse o Discretamente, não estaria a divagar sobre este assunto. Ele questiona-me…e eu não posso dizer que não!
Sinto este meu modo de falar como uma espécie de “impressão digital sonora” tal como outros detalhe fazem parte da minha “impressão digital visual”. Já não irei mudar e sei que até ao fim desta terrena caminhada “espalharei” por aí esta peculiar sonoridade que mistura Alentejo…Algarve…Lisboa…..
Como eu gosto de dizer: se não me deixei ”apanhar” em 49 anos…não tenho qualquer dúvida que tal já não irá acontecer!
Porém, gostava de perceber…..