Entre a tarde e a noite
de um dia de Verão,
a praia fluia
num tempo sem intenção.
Enorme
deserta
maré vazia…
reflexos na areia,
cheiro a maresia!
Templo de gaivotas
em tempo de liberdade,
elas e eu
talvez a felicidade!
Entre a tarde e a noite
de um dia de Verão,
a praia fluia
num tempo sem intenção.
Enorme
deserta
maré vazia…
reflexos na areia,
cheiro a maresia!
Templo de gaivotas
em tempo de liberdade,
elas e eu
talvez a felicidade!
Em tons de imaginação e de esperança… desejo a todos um bom fim-de-semana!
Sou uma apreciadora convicta da chamada street art, seja daquele detalhe tímido que se encontra num recanto, seja daquela obra de grande formato que ocupa uma empena, muro ou outro espaço com alguma dimensão.
Nesta matéria, como em quase tudo, existe o lado agradável e existe o lado menos bom. Este post centra-se no primeiro, em obras que considero de qualidade, já que há muito rabisco inscrito por aí sem qualquer interesse e que não representa mais do que ruído visual e falta de civismo.
Centrando-me no assunto do post:
Ao saber através da internet da existência do Mapa online de arte urbana da Amadora (cidade adjacente a Lisboa), resolvemos ir em busca das obras aí referidas, o que foi realizado em três incursões, já que a urbe é bastante grande e as obras muitas. Fomos fotografando o que mais nos agradou, fosse pela técnica, dimensão, imaginação ou até pelo humor.
Começando pela imagem que dá início a este post, é uma obra da autoria do artista português Sérgio Odeith e representa dois personagens da série televisiva americana Breaking Bad. Ele é um dos autores que mais aprecio e, sendo originário do conselho da Amadora, mais precisamente da Damaia, são várias as obras com a sua assinatura existentes nesta área.
Actualmente está mais dedicado a obras anamórficas o que significa, de uma forma muito sucinta, que são pinturas realizadas com deformações mas, quando observadas de determinado ângulo, a percepção da forma é a correcta e o que foi pintado aparece a três dimensões, ou seja, penetrando ou destacando-se das paredes. Algumas são realmente fabulosas como poderão verificar no site oficial do artista.
Tal como a imagem inicial, também a série que se segue é da sua autoria. De realçar que as duas primeiras têm algumas das características que mencionei no parágrafo anterior.
Desde 1989 que o município da Amadora promove um festival de BD para promoção e divulgação deste tipo de arte. Apenas a pandemia cortou esse ciclo, que este ano deverá ser retomado. Sendo um evento reconhecido e muito importante, são várias as pinturas promovidas pela Associação Portuguesa de Arte Urbana que o homenageiam. Deixo aqui uma pequena selecção de obras de vários autores, das muitas que ocupam grandes espaços na cidade.
Este ultimo conjunto de imagens que seleccionei integra obras de diferentes autores e estilos. Tal como os anteriores, também estes são portugueses e mostram muito bem a sua qualidade.
Não visitamos todos os locais possíveis e verificamos que algumas das pinturas indicadas no roteiro já não existem ou foram substituídas. Ou que outras apareceram entretanto, não estando nele mencionadas.
Por último, não posso terminar sem salientar a profunda admiração que tenho por estes artistas que pintam grandes superfícies, talvez porque tenho a noção das dificuldades que se podem sentir ao fazer algo… apenas em pequeno formato!
Esta forma de expressão é certamente uma viagem bem desafiante pelo mundo da arte!
Deixar o nosso olhar acompanhar a dinâmica do exterior de um formigueiro não é de todo um tempo perdido nem o estar perante algo indiferente. Sempre sinto esses momentos como uma lição de vida e um relembrar de valores que o egoísmo dos dias tende a esbater em nós.
Na sua pequenez, as formigas são enormes, intensas, fortes, persistentes, focadas, cooperantes, solidárias, inteligentes, etc, etc, no sentido mais restrito destas palavras e da dimensão destes minúsculos seres. Revelam-nos isso em poucos minutos, seja na forma de procurar e transportar alimento para a sua comunidade, seja no modo como lidam entre si e na entreajuda que é tão natural na espécie.
Sempre me questiono como o conseguem com tanta eficiência, como comunicam com tanta eficácia e como aparentemente não se distraem nem se cansam?
Este tempo de azáfama para as formigas é, para muitos de nós, um tempo de férias e de descanso.
Seja qual for o lado em que nos situemos – trabalho ou férias – tentemos que ele seja focado, inspirador e bem aproveitado!
…anestesia o pensamento
…trava as ideias
…cansa as palavras
…adormece o olhar
…amolece os gestos
…sufoca o respirar
…retarda o andar
…impede a acção
…e derrete totalmente a vontade de trabalhar!
Com calor ou fresco…que seja um fim-de-semana a gosto de cada um!🤗
O corpo e a mente não acompanham ao mesmo ritmo o regresso ao trabalho no pós-férias.
O primeiro adapta-se melhor e rapidamente reaprende as rotinas…mas a mente, bem mais dispersa, vagueia entre esses dois tempos num saltitar irrequieto que apenas o passar dos dias permite tranquilizar um pouco mais.
Como sempre me acontece, mais uma vez estive dentro desse filme em modo bem activo. Por vezes até cansa esse “deambular” sem sair do mesmo sitio…
Entretanto, a transição vai acontecendo porque a realidade se impõe e exige atenção e concentração. Contudo, não obstante este voltar à realidade, de vez em quando surgem sentires…imagens…detalhes que nos levam a esses dias…..
…a visão da maré baixa (que adoro!)
…os longos areais e os passeios matinais à beira-mar
…o primeiro banho de mar do dia, logo bem cedo e que nos faz sentir em comunhão com a Vida e com tudo!
…dormir na praia (tão bom!)
…o sabor de inesquecíveis bolas de Berlim
…a satisfação de degustar deliciosas sardinhas assadas
…
…
…e aquele dolce far niente que só os dias de férias permitem!
E há um momento, muito especial e bem diferente deste tipo de sentires que não desaparecerá da memória: o da imagem que inicia este post!
Este guarda-rios pousou a pouco mais de dois metros do observatório onde nos encontrávamos no parque Ambiental de Vilamoura. Vi-o, mas logo me escondi parcialmente para que o meu companheiro, em boa posição e já com a máquina ligada o pudesse fotografar devidamente.
Dada a proximidade do tronco em que esta pequena ave se encontrava, se naquele exacto momento eu ligasse a minha máquina, certamente ele voaria pois são aves muito assustadiças e que reagem ao mínimo gesto ou som em seu redor.
Para nosso deleite, ele permaneceu alguns segundos naquele tronco. Virou-se para um lado, depois para outro e foi lindo, pois nunca tínhamos visto esta espécie tão próximo e com tanto pormenor. Não o fotografei, é certo, mas não tenho pena. Por vezes é importante saber parar e não querer demais…para que não se perca tudo.
Fico muito feliz em partilhar esta imagem captada pelo meu companheiro. É dele, mas indirectamente também é minha. E ambos sabemos que este silencioso momento das nossas férias nunca será esquecido!
O valor que damos a algo é sempre relativo, sendo imenso o que passa despercebido ao nosso olhar enquanto outros alvos são privilegiados por esta transparência que brota de nós.
A ponte 25 de Abril, que une as duas margens do Tejo em Lisboa, talvez seja a campeão dos meus olhares. Há mais de quarenta anos que descansa na janela da sala onde trabalho e há outros tantos que sob ela passo duas vezes ao dia.
Normalmente mostra bem os seus contornos e elegância, linhas que os nevoeiros surgidos no rio gostam de afagar ou esconder num jogo dinâmico e sensual, ora tapando a base dos pilares, ora os topos, ora tudo. Neste ultimo caso em que ela simplesmente desaparece, gosto de pensar que foi de viagem, que se cansou de estar estática no mesmo lugar há tantos anos…ou então que eu mudei de lugar e outra cidade me recebe! Certo é que, limpa ou envolta em nevoeiro, é sempre bonita e cativante.
Esta estrutura longa e flexível tem uma vida muito própria. Pelas suas entranhas passa um comboio (como se pode ver à esquerda da imagem), um meio de transporte importante na dinâmica dos fluxos de pessoas que se deslocam diariamente entre as duas margens do rio; e no tabuleiro, um tráfego muito intenso ou mais fluido pode, de um momento para o outro, dar lugar a um acidente de onde resulta um humor engarrafado, congestionado e sempre enervante. Por outro lado, mantém uma relação sonora com a cidade emanando um ruído constante, um “vrumm” metálico um tanto cansativo e certamente muito incomodativo para os que vivem perto dela.
Na sua passividade e para além da função de ligação, já foi palco de muitos momentos desde que foi inaugurada em 1966: grandes obras, manifestações, bloqueios, corridas com milhares de pessoas, etc, etc. Já sabe o que é o calor dos passos humanos, do mesmo modo que sabe o que é o desespero dos muitos que decidiram terminar a vida no seu tabuleiro, atirando-se daí ao rio. Com este pensamento, a ponte sempre perde muita da poesia que lhe encontro…
Olhando em seu redor…
…é uma estrutura que tem a seu lado, na margem sul, o Santuário do Cristo-Rei, formando uma parceria inconfundível no perfil da cidade e uma espécie de ex-libris que dá as boas vindas a muitos dos visitantes. No céu, passa sobre eles um dos corredores aéreos de acesso ao aeroporto de Lisboa, percorrido por um constante fluxo de aviões que só a pandemia permitiu travar totalmente. E em baixo, sob a ponte, flui o magnifico rio Tejo prestes a chegar ao oceano e permitindo agora, depois dos trabalhos de despoluição realizados, que muitos golfinhos penetrem diariamente o seu leito e sejam vistos na zona dos dois pilares submersos. Que melhor companhia poderia ter a ponte 25 de Abril?
Os pilares que a sustentam são suporte, mas não só. Na verdade, vale muito a pena ir até ao primeiro em betão implantado no lado norte, em Alcântara, e aí visitar o Centro Interpretativo da Ponte 25 de Abril – Experiência Pilar 7 – inaugurado aquando dos 50 anos desta estrutura. Muito mais do que o interesse do miradouro e do elevador panorâmico que possui, vale imenso pelo percurso expositivo que disponibiliza complementado por meios interativos. E responde a muitas questões que os mais curiosos terão ao olhar para esta belíssima obra de engenharia que resultou do trabalho árduo de muita gente, numa época em que as tecnologias e as questões de segurança era bem diferentes da actuais, facto que levou à morte de muitos trabalhadores em acidentes durante a sua construção.
Publico este divagar no dia de mais um aniversário desta ponte, mais precisamente dos 55 anos após a sua inauguração. Nessa altura, era a maior ponte suspensa da Europa e foi um evento marcante para todos os portugueses. Até para mim, uma criança com apenas oito anos que vivia no Algarve….e que jamais imaginaria que aquela enorme construção seria uma presença constante no seu olhar e, de certa forma, na sua vida.
Cruzam-se por aí
incontáveis olhares,
rede invisível de energias
que se tocam
sem querer
saber
ou pensar.
Olhares doces
intensos
objectivos
seguros ou perdidos,
bucólicos
tristes
disfarçados ou plenos.
Olhares de nós.
Alguns
poucos
aninham-se noutro olhar
ou lugar…
…ficando a maioria
perdida no tempo
no vazio
no éter
e no ar…
…perdidos de nós!
Tempos mais conturbados na minha vida poderiam ter levado a um afastamento da vertente criativa. Mas tal não aconteceu. Pelo contrário, sendo o momento de trilhar um novo caminho, senti necessidade de fazer coisas um pouco diferentes.
O curioso é que os desenhos que publico neste e no próximo post, tecnicamente exigentes e requerendo muita atenção e cuidado uma vez que muitas das zonas de sombras e relevos foram realizadas com pontos de caneta (e muita paciência também!), serviram para eu perceber que realmente não era isto que queria porque, na essência, eles simbolizavam contenção, controle e a total ausência de espontaneidade.
Contudo, aprecio este conjunto de desenhos como um todo por terem sido únicos e marcarem um tempo de mudança na minha vida. Gosto especialmente do inicial pelo simbolismo que encerra, desenho que há uns anos decidi oferecer a uma sobrinha que o adorava, vivendo desde então feliz em sua casa.